domingo, janeiro 20, 2013

Uma breve reflexão sobre a perseguição aos evangélicos no Brasil


Por Renato Vargens

As primeiras informações que retratam de forma efetiva a perseguição religiosa no Brasil se remota a 1557, quando os huguenotes (calvinistas franceses) chegaram ao Rio de Janeiro  com o propósito de ajudar a estabelecer um refúgio para os calvinistas perseguidos na França.

Em 10 de março de 1557 os protestantes franceses celebraram o primeiro culto evangélico do Brasil e no dia 21 de março celebraram a primeira Santa Ceia. Todavia, pouco tempo depois Villegaignon entrou em conflito com as calvinistas acerca dos sacramentos e os expulsou da pequena ilha em que se encontravam.  Alguns meses depois, os colonos reformados embarcaram de volta para a França. Quando o navio ameaçou naufragar por excesso de passageiros e por ter pouca comida, cinco deles resolveram  regressar.  Esses cinco se sacrificaram em favor dos seus irmãos na fé. Assim que chegaram em terra foram presos: Jean du Bordel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon e Jacques le Balleur. Pressionados por Villegaignon, foram obrigados a professar por escrito sua fé, no prazo de doze horas, respondendo uma série de perguntas que lhes foram entregues. Eles assim o fizeram, e escreveram a primeira confissão de fé na América, sabendo que com ela estavam assinando a própria sentença de morte. Essa maravilhosa declaração de fé é conhecida como a Confissão de fé da Guanabara(1558). Em seguida, os três primeiros foram mortos e Lafon, o único alfaiate da colônia, teve a vida poupada. Os mártires do evangelho foram enforcados e seus corpos atirados de um despenhadeiro. Balleur fugiu para São Vicente, SP, foi preso e levado para Salvador (1559-67), sendo mais tarde enforcado no Rio de Janeiro, quando os últimos franceses foram expulsos.

Quase 100 anos depois, os holandeses criaram a Companhia das Índias Ocidentais com o objetivo de conquistar e colonizar territórios da Espanha nas Américas, especialmente uma rica região açucareira: o nordeste do Brasil. Em 1624, os holandeses tomaram Salvador, a capital do Brasil, mas foram expulsos no ano seguinte. Finalmente, em 1630 eles tomaram Recife e Olinda e depois boa parte do Nordeste.  Neste periodo João Maurício de Nassau-Siegen, que governou esta região entre 1637 a 1644,  concedeu uma boa medida de liberdade religiosa aos residentes católicos e judeus.  Sob os holandeses, a Igreja Reformada era oficial. Foram criadas vinte e duas igrejas locais e congregações, dois presbitérios (Pernambuco e Paraíba) e até mesmo um sínodo, o Sínodo do Brasil (1642-1646). Mais de cinquenta pastores ou "predicantes" serviram essas comunidades. A Igreja Reformada realizou uma admirável obra missionária junto aos indígenas. Além de pregação, ensino e beneficência, foi preparado um catecismo na língua nativa. Outros projetos incluíam a tradução da Bíblia e a futura ordenação de pastores indígenas. Em 1654, após quase dez anos de luta, os holandeses foram expulsos, transferindo-se para o Caribe. Os judeus que os acompanhavam foram para Nova Amsterdã, a futura Nova York.

 Desde então, não se sabe de relatos de cultos protestantes no Brasil. No entanto,  com a chegada da família real a terras tupiniquins e com a abertura dos portos  as nações amigas,  as confissões protestantes começaram paulatinamente a chegar ao país. Os Anglicanos chegaram em 1811, os luteranos em 1824, os Congregacionais em 1855, os presbiterianos em 1859, e  os batistas em 1871. Todavia, em virtude da constituição de 1824 outorgada por D. Pedro I, que afirmava ser o catolicismo romano a religião oficial do Brasil, os protestantes não possuíam direito a cultos públicos em língua portuguesa, além é claro de não terem permitidos a construção de templos com aparência religiosa.

Já no governo de  Dom Pedro II , (mesmo o imperador possuindo uma grande simpatia pelos protestantes), não era nada fácil afirmar publicamente a fé nos pressupostos cristãos, mesmo porque, a religião oficial do Estado imprimia  forte perseguição religiosa aos evangélicos.

Com a Proclamação da República, o Estado Brasileiro deixou oficialmente de ser Católico Romano permitindo assim com que os protestantes tivessem direito a culto. Todavia, como não poderia deixar de ser, a maioria da população ainda desenvolvia um significativo preconceito para com aqueles que se diziam cristãos protestantes. A consequência direta disso foi a  aniquilação de  inúmeras templos evangélicos, que de forma covarde foram  destruídos pelo fogo. Dentre estes, encontra-se a 1ª  Igreja Batista de Niterói, que em 14 de abril de 1901, teve  seus móveis, púlpito, pertences e diversos utensílios queimados em plena rua, além de sua sede destruída.

Durante a primeira metade do século XX, os crentes em Jesus foram estigmatizados e denominados pelo clero romano como hereges sofrendo por conseguinte ofensas morais, onde atributos pejorativos lhes eram destinados. Junta-se a isso, o fato de que muitos por causa da sua  crença sofreram no corpo agressões físicas por não professarem a fé dos sacerdotes romanos. Na segunda metade do século XX a perseguição se deu de forma velada mediante os meios de comunicação que a todo custo vendiam a sociedade brasileira a imagem de uma igreja burra, ignorante e manipuladora da fé alheia.

Caro leitor, a constituição de 1988 nos garante liberdade de fé e religião.  O artigo 5º da Carta Magna diz que ´"É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias." Todavia, por fatores diversos os cristãos evangélicos tem sofrido novas perseguições substanciais em virtude de suas opiniões religiosas contrárias ao casamento gay.

Vale a pena ressaltar que a fé protestante não defende a homofobia. Na verdade, nós cristãos-evangélicos somos contrários a todo tipo de violência física condenando veementemente aqueles que atentam contra a vida de quem quer que seja. Todavia, acreditamos também que possuímos o direito irrevogável e constitucional de expor publicamente nossa fé conforme claramente afirma a nossa carta magna.

Isto posto, oro ao Senhor nosso Deus que estenda a mão sobre o Brasil livrando a sociedade brasileira de uma lei que sem sombra de dúvida promoverá mais uma severa perseguição religiosa no Brasil.

Soli Deo Gloria,

Renato Vargens
Wilson Porte Jr. disse...

Oi Renato, parabéns pelo texto. Já havia passado por esses eventos no Andrew Jumper, onde faço mestrado em Teologia-História. Você conseguiu sintetizar muito bem! Creio que sua aplicação final é bastante cabível, aja vista toda a palhaçada que os gays estão fazendo, recentemente, contra o Mackenzie. Que Deus continue a usá-lo e abençoa-lo. Abs, meu irmão.

Anônimo disse...

Muito bom, belíssimo fragmento da cultura cristã!!!

Carlos Gomes

VBryan disse...

Obrigado Renato, pela bela síntese histórica e colocação profética.

Penso que "protestante" tem sempre tido a notoriedade de protestar algo, e mais uma vez protestamos algumas grandes incoerências--entre elas, a agenda política (e religiosa) de um grupo minoritário que se ergue contra a convicção moral dos que promovem a integridade da família, e que aceitam a revelação bíblica como de essência e fonte divina.

Entendo que esses usam a constituição apenas como fachada, para mascarar o egoísmo, e ocultar um coração revoltado e endurecido contra o Criador.

Como membros da comunidade brasileira, temos direitos constitucionais sim, como falaste, e também acredito que precisamos vigiar e zelar por estes.

Porém o nosso maior direito talvez não seja a constitucional, e sim, como filhos e embaixadores do Rei, de oferecermos a oportunidade de reconciliação com Ele, e com isso a possibilidade de transformação de vida. Precisamos orar que "venha Seu Reino," entendendo que esse sempre terá grande oposição, até que o Inimigo seja removido.

Até então, seremos protestantes amorosos, sendo talvez nosso maior direito o mesmo que Jesus exerceu sobre a cruz.

Bryan Harms

Blog "A favor do Reino" disse...

Ótimo texto. O pastor abordou o assunto e organizou os assuntos de maneira excelente. Parabéns.

Adriano Modolo disse...

Segundo o PIG (Partido da Imprensa Golpista - denominação dada àqueles que comandam a imprensa a seu favor) a culpa é dos evangélicos neopentecostais. Veja em http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/01/21/denuncias-de-intolerancia-religiosa-crescem-mais-de-600-em-2012.htm

IBRA em FOCO disse...

Pastor Renato aqui no Rio Grande do Norte existi uma historia de um massacre a catolicos feitos por protestante. http://www.saogoncalorn.com.br/historia/martires esse é link que pode ser lido um pouco da historia.

Isabelle disse...

Sr. Renato Vargens,

Não entendo essa fé dos que se dizem cristãos... O próprio Salvador declarou: "no mundo tereis aflições, porém tende bom ânimo..." Se não houver perseguição, então as Escrituras metem, e o próprio Salvador também!

Acaso esses cristãos brasileiros tem medo de sofrer perseguição?! Acaso esses cristãos brasileiros são melhores do que seus pares que, por Amor aO Pai, sofrem no mundo todo?! Se vocês tem fé, então declarem isso... Estão "se pelando" de medo de serem presos por defender suas "crenças"?! Que tipo de "fé" é essa?!

"Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.
Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos,
Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons,
Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus,
Tendo APARÊNCIA de piedade, mas NEGANDO A EFICÁCIA dela. (...) E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições."
2 Timóteo 3:1-5 e 12

Através de textos como esse percebo que vocês tem medo dos que podem matar o corpo... "Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno." Mateus 10:28.

O fim dos tempos está próximo e a cada dia percebo que os religiosos e suas religiões não servem para nada, exceto promover o engano.

Que o Creador tenha compaixão de nós.

Com Amor e súplicas,
Isabelle dos Santos.

Isabelle disse...

Prezado Bryan Harms,

como podem ser chamados de protestantes pessoas que nunca romperam de fato com rituais e diversas práticas pagãs? Não defendo o movimento gay, mas acredito que O Creador deu livre arbítrio para que cada um possa escolher seu caminho. Se defende uma crença é motivo de perseguição, então que seja! Que possamos fazer valer essa crença pois o próprio Salvador nos disse que por Amor ao Seu nome seríamos perseguidos e até mortos. Mas não devemos temer quem pode destruir o corpo, não é mesmo?

Em Amor,

Isabelle dos Santos

Luiz disse...

Os protestantes (que na minha infância eram chamados de "crentes", não viam TV, diziam ser "coisa do diabo"), depois passaram a ser chamar "evangélicos", não sabem o que é perseguição. Perseguição sofreram os ciganos e judeus na Alemanha nazista, os gnósticos na idade média, os adeptos de religiões afro no Brasil, que inclusive em pleno séc. XXI eram vistos pelos evangélicos em seus programas de TV (logo eles que abominavam a televisão) como religião do mal, de magia negra etc, até que a lei os calou e aprenderam a respeitar a crença alheia. Outra coisa, qualquer criança do ensino fundamental conhece algo sobre a Inquisição Católica, mas poucas pessoas, mesmo adultas, conhecem a Inquisição Protestante, que também ocorreu, causou vítimas e é pouco divulgada, quem são os perseguidos afinal? A propósito, todos no Brasil a princípio têm os mesmos direitos, não importando a religião, o Estado é laico.

Rafael Henrique disse...

A inquisição católica e a inquisição protestante juntas mataram menos que o comunismo, só na perseguição de religiosos, imagina de outros grupos. Cristãos são mortos até hoje no mundo. Você considera direito não poder criticar o ato homossexual, e os cristãos poderem ser criticados? Podem até enfiar a santa em lugares desconhecidos, em público, hipócritas. Se isso fazer parte da doutrina deve-se criticar os macumbeiros sim, deve-se criticar os católicos sim, deve-se criticar os homossexuais sim, e deve-se criticar os heterossexuais promíscuos sim. Agora, partir para violência contra essas pessoas não pode, inclusive já existem leis contra isso. Devo dizer que acho muito medíocre esse reducionismo em grupos, o ser humano é mal, quando que vão entender isso. Existem filhos da puta na igreja evangélica, na católica, nos gayzistas, entre os gnósticos, entre os ciganos, entre as religiões afro-ameríndias, em todo lugar. Independente de seus respectivos filhos da puta, cada grupo deve ter seu direito, desde que não fira os direitos dos outros de expressar sua própria opinião.

Rafael Henrique disse...

Não tinha lido as instruções abaixo, e consequentemente, falei um monte de palavrão no meu comentário anterior. Se puder podem colocar no lugar: "filhos de uma geração adúltera", como dizia Jesus.

Unknown disse...

Fraquinha na fé! Você é!

Atalaia disse...

Amigo Renato Vargens, parabéns pelo belo artigo. Muito propício e objetivo, é sempre de bom agrado agregar um pouco de conhecimento sobre os primórdios de nossa fé no Brasil.

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