domingo, fevereiro 01, 2009

Pastores de almas, uma espécie em extinção?

Renato Vargens

Há pouco tempo ouvi uma história a qual compartilho com vocês. Uma irmã (a qual, por questões obvias, não vou revelar o nome e igreja), passou pela seguinte experiência:

Em um final de culto, movida por um grave problema pessoal, ela procurou o seu pastor, no desejo de abrir o coração, pedindo-lhe que a ajudasse em aconselhamento pastoral. O pastor, sem poder ouvi-la naquele momento, até porque muita gente desejava lhe falar e, principalmente, cumprimentá-lo em virtude do "maravilhoso sermão "que havia pregado, solicitou à irmã que procurasse a secretaria da igreja e agendasse um encontro.

No dia seguinte a irmã procurou a secretaria, tentando agendar o encontro pastoral; no entanto, para sua surpresa, a secretária informou que o tal pastor não teria agenda livre para os próximos cinco meses, o que impossibilitaria o seu atendimento. A moça se desesperou, implorou, pediu pelo amor de Deus, mais nada pôde ser feito. A secretária explicou que o pastor tinha já agendado muitos encontros, jantares, viagens e conferências, as quais tinham que ser priorizadas, e que o máximo que ela poderia fazer seria encaixá-la num atendimento, quatro meses depois.


A moça saiu da igreja, naquela manhã de segunda-feira, pior do que entrara; na verdade, agora ela se sentia deprimida, desvalorizada e sem perspectiva alguma de ser ajudada em seu problema. O pastor, o qual ela pensava que poderia ajudá-la, infelizmente não poderia fazê-lo.

Seis meses se passaram e a moça desiludida, bem como desesperançosa, não fora mais à igreja. Para sua tristeza, ninguém, absolutamente ninguém, a procurara, querendo saber o motivo de sua ausência. Até que um dia, o pastor da igreja da qual fazia parte, encontrou-a na instituição bancária onde ela trabalhava. Ao vê-la, o pastor não esboçou nenhum comentário quanto à sua ausência; na verdade, a única coisa que falou, é que estava correndo em virtude da grande e complexa agenda.


Não sei o que você pensa e sente ao ler essa pequena história. Entretanto, quando soube do fato, fui tomado por uma grande perplexidade que me fez questionar sobre o papel pastoral nos dias de hoje. Aonde estão os pastores do povo de Deus? Aonde estão aqueles que por amor ao Rei, largam as 99 ovelhas e vão em busca de uma que se perdeu e sofre? Sem sombra de dúvidas, vivemos uma enorme crise de pessoalidade e afetividade na relação pastor-ovelha, isso porque, alguns dos ditos pastores se tornaram mega-stars da fé, imponentes pregadores, "Apóstolos desbravadores", além de "poderosos profetas". Junta-se a isso, o fato de que as mensagens pregadas nos púlpitos têm tido por fundamento o marketismo religioso, cujo conteúdo é humanista e secularizado. Infelizmente, sou obrigado a concordar que tais pastores têm se preocupado mais com a porta de entrada, do que com a porta de saída dos seus apriscos; mais com números do que com gente. Na verdade, ouso afirmar de que vivemos numa era onde as pessoas foram definitivamente coisificadas, onde seres humanos, criados a imagem e semelhança de Deus transformaram-se em gráficos e estatísticas.

Diante desta nebulosa perspectiva, sou tomado pela imprenssão de que essa geração necessita urgentemente de pastores de almas, de gente abnegada, que se preocupe com a dor do próximo e tenha prazer em cuidar da ovelha ferida. Para tanto, torna-se indispensável remodelar e reformar os conceitos pastorais desta geração, impregnando nos novos ministros, amor, compromisso e fidelidade para com Deus e seu Reino. Além disso, julgo também que seja imprescindível de que os pastores desse tempo, sejam plenamente comprometidos com a Santa Palavra de Deus, preocupando-se com o que ela diz, tomando-a como regra, bem como modelo de fé e comportamento para o seu ministério pessoal.

Vale a pena lembrarmos daquilo que o reformador francês João Calvino costumava dizer quanto a Palavra de Deus. (1) “A Escritura é a fonte de toda a sabedoria, e os pastores devem extrair dela tudo aquilo que expõem diante do rebanho” (2) Calvino afirmava que através da exposição da Palavra de Deus, as pessoas são conduzidas a liberdade e a segurança da fé salvadora, dizia também que a verdadeira pregação, tem por objetivo abrir a porta do reino ao ouvinte, isto é, em outras palavras o que ele está a nos dizer, é que as Escrituras Sagradas, devem ser o principal instrumento na condução, consolidação e pastoreamento do povo de Deus.

No exercício de seu pastorado, Calvino dizia que a pregação pública deveria ser acompanhada por visitas pastorais. (3) Junta-se a isso o fato, de que ele sempre procurou encorajar pessoas sobrecarregadas, as quais não conseguiam encontrar consolo mediante sua própria aproximação de Deus, a procurarem seu pastor para aconselhamento particular e pessoal.

Conforme registro de um dos seus colegas pastores em Genebra, “(...) os que lhe procuravam eram recebidos com simpatia, gentileza e sensibilidade. Ele os atendia e prontamente lhes respondia as perguntas, mesmo as mais sérias delas. Sua sabedoria era demonstrada nas entrevistas particulares tanto quanto nas conversas públicas onde ele confortava os entristecidos e encorajava os abatidos...”. [4].

Calvino também acreditava que o ensino, além de ser público nos cultos, deveria ser acompanhado por orientação pessoal e aplicado às circunstâncias específicas da vida de suas ovelhas. Atendia noivos que estavam se preparando para o casamento, pais que traziam seus problemas relacionados aos seus filhos, pessoas com dúvidas ou dificuldades doutrinárias, lutas com enfermidades, ouvia confissões de pecados, e a todos ele os recebia e levava o conforto e o encorajamento necessários. [5]

Amados irmãos, ainda que os nossos dias, sejam diferentes dos dias dos reformadores, carregamos em nosso tempo as mesmas demandas pastorais. Nossas igrejas estão cheias de individuos em crise, de familias desestruturadas, além de pessoas que foram violentamente marcadas por satanás e o pecado. Ouso afirmar que neste tempo pós moderno, onde o relativismo tem mostrado as suas garras, necessitamos urgentemente de pastores preparados e capacitados, que amem a Deus acima de todas as coisas, e que se disponham a pastorear abnegadamente o rebanho de Cristo.

Que Deus tenha misericórdia de seu povo e levante pastores segundo o seu coração.

Soli Deo Gloria,

Pr. Renato Vargens

1) João Calvino, As Pastorais, Comentário em I Tm 4:13, p. 1232) http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/calvino_pastor_gildasio.htm - Gildásio Reis3) Calvin , John. Calvin´s Commentaries – The Epistles Of Paul – The Apostle To The Romans And To The Thessalonians. Grand R apids , Michigan : Eerdmans Publishins Company. p. 345 ( Ao camentar I Tessalonissenses 2:11, Calvino insiste em que o pastor precisa ser um “pai” para cada pessoa.4)Palavras de Nicolas des Gallars registradas por Richardr Staufer em The Humanness of John Calvin (New York: Abingdon Press, 1971) e citadas por Baumann.5) Calvino , João. As Institutas da Religião Cristã. Vol. IV, 3: 6 - São Paulo, SP: Casa Editora Presbiteriana. 1989.

Danielrq.net disse...

Depois reclamam da igreja em células!

Nós pregamos tanto tempo sem se preocupar com o sacerdócio de cada membro da igreja...e agora reclama?

Pr João Kennedy disse...

olça a graça e a paz em CRISTO JESUS, na verdade diante da materia exposta deseo saber e estar em discussão sobre o Apostolo Paulo , na verdade o que desejo encontrar é sobre as fraquezas do apostolo, pois muitos pastores tem pregado sobre a avidez do apostolo , porem ninguem fala sobre o comportamento do apostolo diante das adversidades , se o memso por algum momneto diante do SENHOR colocou suas fraquezas na presença de DEUS? aguardo que o amado me responda a cerca disto.

sobre a questão em pauta nos da uma tristeza profunda em ver que ovelhas tem ficado desgarrada dos rebanhos por falta de verdadeiros pastores que teem usado muito cajado sem ao menos se preocupar com o coração da ovelha , não pelo fato de falar as verdades mais sim pelo fato de usar pupitos para agredir as ovelhas! falar de pastorado e mesmo diante de exortações se deixa o ombro para que a ovelha possa repousar sua cabeça!! shalommmm ao amado e que O NOSSO DEUS E PAI TE ENCHA DE UITAS BENÇÃOS E FORÇAS PARA CONTINUAR SUAS PREGAÇÕES!!!! A PAZ NO AMADO!!

.ELIAS disse...

É com muita tristeza que tenho que concordar, que isto é a mais pura verdade, gasta-se bilhões de dolares, para evangelizar, construir templos, viagens missionarias, manutenção de obreiros em outras nações, progamas televisivos e de radio.
e não olhar para a porta de saida, pastores que não aceitam seus membros passarem por momentos dificeis, não aceitam seus membros ficarem doente ou coisa parecida.
pode ser pecado.
lembro-me a alguns anos eu era segundo dirigente de uma congregação, como todos sabem eu era motorista viajante, se bem que minhas viagens era quase uma viagem missionaria, todos dia eu congregava, quando eu chegava de viagem eu queria estar com meus irmãos e congregados, ia a casa deles para orar e se confraternizar com eles, enfermos eram curados e triste se alegravam , até hoje vejo o retorno destas vizitas , para minha perplequixidade, meu primeiro pastor, me chamou na sala pastoral, e me disse,ELIAS VOCE NÃO PODE FICAR ENFIADO NAS CASAS DOS IRMÃOS, VOCE VAI PERDER A AUTORIDADE SOBRE ELES.pasmem mais isto é verdade. meu DEUS. eu ouvi isto. pensso eu que autoridade e respeito não se impoem mais se conquista.
como é maravilhoso ver uma pessoa que chega até a gente chorando, sair sorrindo. triste sair alegre,
é gratificante ver a obra de Deus crescer, e continuar grande.
oremos ao Pai para que Ele mande mais obreiro pois grande é a seara.

Anônimo disse...

Isso tambem ocorreu comigo, fui ignorado e o assunto era sério, precisava de ajuda urgente, mas fazer o que, né?

william lago disse...

(A igreja precisa ver o que fala em Exodo 18 e praticar, pois o Pastor só, fica sobrecarregado pra atender a todos, não estou aqui querendo defender a atitude deste pastor em questão, pois uma ovelha é mais importante. Vejam o livro de Atos; como os irmãos da igreja primitiva viviam, ninguem ficava sobrecarregado. O Apostolo Paulo compara a Igreja como um corpo humano, onde membros precisam ficar interligados um a outro pra que possam crescer. Mas hoje o irmaos só se vem nos templos, nao criam um vinculo de amizade, intimidade, confiança, só ver o Pastor como aquele que pode ouvi-lo. Qualquer problema só deveria chegar até o Pastor quando não se pode resolver entre os irmaos, mas só é possível se a Igreja vivesse realmente como Igreja, em perfeita sintonia, uniao, cumplicidade, confiança, amizade, transparencia, amor. Jesus andou o tempo todo com os seus discipulos. Os discipulos puderam de perto aprender como Jesus agia em todas as situações. Depois ele puderam ensinar os irmãos que ia se convertendo. Mas por faltar unidade entre os irmãos o que se ver é muita desconfiança. Como confiar em quem não conheço??. Como pode andar o corpo se faltar as pernas??, como caminhar sem correr perigo se faltar os olhos?? Leia: Efesios 4.15-16; Colossense 1.18, 2.19, existem outros textos mas quis destacar apenas esses.)

Anônimo disse...

Pr. Renato, publiquei esta postagem no meu blog. Tudo bem?

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