sexta-feira, março 02, 2012

O neopuritanismo brasileiro.

Por Renato Vargens

Há pouco ouvi alguém dizer que a liturgia das igrejas brasileiras são distorcidas e mundanas e que a melhor forma de cultuar a Deus é a ensinada pelos neopuritanos.

Pois bem , volta e meia tenho visto alguns adeptos do neopuritanismo advogando a causa de que a igreja deve romper com alguns comportamentos litúrgicos.  Os que pensam desta forma acreditam que o momento de louvor deve ser desprovido de instrumentos musicais, que as letras das canções devem ser exclusivamente compostas por salmos, que as mulheres não devem em hipótese alguma orar na assembléia solene. Se não bastasse isso os que defendem esse modelo litúrgico são cessacionistas, isolacionistas e extremamente críticos,  advogando para si o modelo correto de cultuar ao Senhor.

Ora, o termo puritano em si já carrega uma série de estereótipos. Lamentavelmente boa parte dos cristãos ao ouvirem essa expressão  são tomados pelo mais puro preconceito, o que se deve em parte ao desconhecimento da história do puritanismo.

bem, os puritanos viveram entre o século XVI e XVIII. Eram leigos e ministros ordenados da Igreja da Inglaterra e das igrejas presbiterianas, batistas e congregacionais. O apelido “puritanos” foi colocado por seus inimigos, para ironizar o ideal de pureza que defendiam. O puritanismo não era uma denominação, mas um movimento dentro da Igreja da Inglaterra e das igrejas independentes, que desejava maior pureza na Igreja, no estado e na sociedade. Queriam que a Reforma, iniciada antes, fosse completa. Acusavam que a igreja inglesa havia parado entre Roma e Genebra. Estavam insatisfeitos porque ela havia se reformado apenas parcialmente, conservando ainda muitos elementos do catolicismo que consideravam como contrários às Escrituras.  Portanto, ao contrário do que boa parte da igreja brasileira pensa o conceito de puritanismo é bem mais amplo do que a visão pudica impetrada por alguns. (1)

A luz deste contexto,  vale a pena ressaltar três percepções que tenho quanto ao chamado neopuritanismo brasileiro:

1- O fato dos neopuritanos possuírem uma liturgia desprovida de contemporaneidade não aponta necessariamente para uma igreja comprometida com a santidade. Ora, uma igreja pode ser relevante,  relacionando-se com cultura vigente, desde que a exposição das Escrituras tenha centralidade no culto.

2- O fato dos neopuritanos possuírem uma liturgia sisuda não significa necessariamente que a comunidade local esteja se relacionando corretamente com Deus e sua Palavra, mesmo porque, o que garante que a observância INTEGRAL do principio regulador do culto gere vida abundante nos membros da comunidade local?

3- O fato da Bíblia não ordenar o ministério pastoral feminino, não significa dizer que devemos obstruir    vocação da mulher como serva do Senhor. Segundo os pressupostos bíblicos não vejo nada que empeça a mulher de servir a Cristo com seus dons e talentos na comunidade local, desde que ela não exerça o papel de governo.

Vale a pena ressaltar que do ponto vista bíblico a igreja precisa se relacionar com a cidade e com a cultura. É papel dela dar sabor e sentido a sociedade a qual está inserida. No entanto, entendo perfeitamente que existe uma linha tênue entre contextualização e sincretização, e que não são poucos aqueles que no desejo de contextualizar o culto sincretizaram o evangelho. Todavia, entendo também que o evangelho é supra-cultural e que os que demonizam uma cultura demonstram o desconhecimento de um Deus que está acima de qualquer manifestação cultural. Acredito também que o estilo cúltico puritano de séculos passados não pode se adequar a multi-facetada cultura tupiniquim.

Isto, posto, afirma sem titubeios que a importação do puritanismo litúrgico da Escócia e da Inglaterra dos séculos XVI e XVII com todos os seus detalhes não contribuirão de forma eficaz com a expansão do Reino de Deus em nosso país.

Pense nisso!

Renato Vargens

(1) Augustus Nicodemus Lopes. Sobre Puritanos, Puritânicos e neo-puritanos.
Filósofo Calvinista disse...

Olá! Esse "movimento" chamado neo-puritanismo tem causado muitos problemas nas igrejas. Em nossa igreja local, por exemplo, presbiteriana, um grupo levantou-se com alguns pressupostos como: "proibição de mulher orar no culto, não utilização de instrumentos musicais, salmodia exclusiva, etc". Só não fez estrago porque o conselho da igreja agiu rapidamente, atendendo determinação do Supremo Concílio. Diante disso, escrevi um artigo para demonstrar os erros e equívocos desse "movimento". Gostaria de convidá-loe a todos os seus leitores para lerem e opinarem no post:

"O PRINCÍPIO" REGULADOR DO CULTO E SUA UTILIZAÇÃO ERRADA PELOS NEOPURITANOS". Em:

http://filosofiacalvinista.blogspot.com/2010/02/o-principio-regulador-do-culto-e-sua.html

Tudo de bom!

Pra Angela Fernandes de Carvalho disse...

É importante tema. Suas colocações podem ajudar a equilibrar as posições mais extremistas sem nos tornar cúmplices da mornidão. (recomendo: Santos no Mundo, Leland Ryken, FIEL - para se entender melhor o pensamento puritano pelas linhas da História)

Marcos David Muhlpointner disse...

Há muito tempo, troquei alguns emails com um exponte do neopuritanismo. Escrevi a ele dizendo que era calvinista, mas que acreditava na contemporaneidade dos dons. Resposta dele: "Isso é uma aberração teológica."

Sabe que aconteceu? Nunca mais falei com eles. E até mesmo dentro da IPB eles não tem boa aceitação.

Abraço, Marcos.

Edmilson Almeida. disse...

Reverendo,

Pelo que tenho contato, o dito "neopuritanismo" brasileiro age dessa forma (momento de louvor desprovido de instrumentos musicais, que as letras das canções devem ser exclusivamente compostas por salmos, que as mulheres não devem em hipótese alguma orar na assembléia solene, etc) por fidelidade à Sola Scriptura - tão bem quista a nós, evangélicos, quando numa apologética contra a igreja romana. Talvez, sem querer, na ideia humana de relevância, estejamos ferindo este princípio que dizemos ser basilar. Acredito, particularmente, que qualquer crítica sobre o assunto deva ser de hermeneutica/exegese bíblica e não sob a alcunha da cultura, que deve estar abaixo das Escrituras.

Eis uma pequena contribuição e, desde já, deixo claro que não quero ofender a ninguém.

Grande Abraço.

Att.,

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