O Inicio do século 20 foi marcado por uma série de fatores que apontavam uma significativa mudança na sociedade. A ciência proporcionava descobertas nos campos mais distintos, vacinas foram criadas, máquinas brotaram de mentes engenhosas, além de idéias que surgiram com a proposta de melhorar substancialmente a qualidade de vida dos moradores do planeta. Filosoficamente o mundo experimentava um momento de profunda credibilidade na humanidade, pensava-se que finalmente, a sociedade encontrara seu rumo e que através da ciência, cultura e trabalho seria possível construir uma sociedade justa e equilibrada.
O momento era absolutamente especial, nunca o novo fora tão novo, isto porque, a cada instante, novos horizontes se abriam diante da humanidade produzindo assim uma euforia humanizante. Na verdade, a expectação comum dos formadores de opinião da época era que o novo século traria modernidade e desenvolvimento. É claro que esta expectativa contribuiu para o esvaziamento do sagrado e da religiosidade. No entanto, com o desenrolar do século e com os acontecimentos catastróficos que dele fizeram parte, a humanidade que até então nutria a esperança de dias melhores deixa-se levar pela frustração de ver um mundo cada vez mais desumano e violento.
A pós-modernidade surge no final do século 20 num ambiente de decepções e inquietações. Sonhos deixaram de ser sonhos, invadindo a classe das utopias irrealizáveis. O Século em questão com suas duas grandes guerras apontou-nos a incapacidade humana de construir um mundo mais equânime e justo. Decepcionada consigo mesma, a humanidade deixou-se levar pelo descrédito e pela incredulidade quanto a sua condição de construir um mundo melhor. É neste contexto de idéias perdidas, sonhos frustrados, que em todo o planeta a chama do sagrado se reacende. Na verdade, bastou que se quebrasse conceitos e paradigmas construídos no decorrer do século quanto a capacidade humana de soerguer a sociedade a um patamar de justiça e equidade, que escancaradamente as portas da existência se reabriram em busca de uma espiritualidade intimista e pessoal.
Isto se percebe claramente nas comunidades pobres das grandes cidades do Estado do Rio de Janeiro. Milhares de pessoas por motivos dos mais diversos que viviam a mercê do caos e da miséria, ao perceberem que a concretização de suas esperanças em uma vida de dignidade não se realizava, sentiram-se impelidos a procurar em Deus o alivio para suas frustrações, tensões e inquietações. É neste contexto, que comunidades inteiras transferiram sua crença no homem para a fé incondicional em Deus.
A fé em Deus contribuiu em muito para uma mudança substancial nas atitudes por parte dos moradores destas comunidades. É claramente perceptível que boa parte daqueles que desenvolvem algum tipo de empreendedorismo tiveram uma relação profícua com a fé e a religiosidade. Tenho a impressão que o fato de relacionar-se com o mítico tem o poder de mexer com os valores internos do individuo resgatando nele valores indispensáveis ao sucesso de qualquer empreendimento. A maioria daqueles que se abriram para o sagrado sofreram uma mudança significativa quanto a sua identidade, isto porque, de algum modo, sentiram-se valorizados por Deus, amados pelo eterno.
Foi com uma nova visão de si mesmo que os moradores destas comunidades rejeitaram a idéia “gabrielização da vida”, até porque, a maioria daqueles que se relacionam com o sagrado resgataram o sentido da existência, entendendo que podem até ter nascido assim, no entanto, viver e morrer assim jamais. Na verdade, boa parte destes, simplesmente abominam o estereotipo de Gabriela, cravo e canela. Junta-se a isso que a relação com o sagrado imprimiu um novo senso de missão nestas pessoas, fazendo por consequinte com que o solitário dê lugar ao solidário, com que o descompromissado dê espaço ao comprometimento social e comunitário.
Nesta perspectiva a fé tornou-se mola propulsora aos empreendedores, até porque, o encontro com o mítico impulsionou aqueles que se enquadram neste contexto a trabalhar arduamente na expectativa de uma vida melhor.
Renato Vargens
Sensacional!
Em relação à espiritualidade, é maravilhoso constatar, que estar próximo de Deus, realmente transforma todas as áreas da nossa vida... nos torna seres humanos melhores.
Quanto a sua abordagem sobre as "favelas", quero parabenizá-lo. Foi de uma simplicidade e beleza, que dificilmente vemos, mesmo quando o assunto é relacionado à vida nas comunidades carentes.
Lindo texto!
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