sexta-feira, abril 03, 2009

A Igreja Evangélica Brasileira e a Violência Infantil

Por Renato Vargens
Palestra proferida na PIB de Niterói, no seminário sobre Violência infantil.

A Violência doméstica é um grave problema em nossa sociedade. Nossas igrejas estão repletas de mulheres e crianças que apanham de seus maridos, pais e padastros. Infelizmente não são poucas aquelas que vivem uma vida de horrores, sofrendo as agruras de uma relação despótica, ditatorial e abrutalhada.

Segundo a UNICEF, todos os dias, mais de 18 mil crianças são espancadas no Brasil, sendo que as mais afetadas são meninas entre sete e 14 anos. Em nosso país, existe uma população de quase 67 milhões de crianças de até 14 anos. Em todo território nacional são registrados 500 mil casos/ano de violência doméstica de diferentes tipos. Em 70% destes casos os agressores são os pais biológicos.

Em Curitiba, a cada seis horas, as autoridades municipais tomam conhecimento de pelo menos uma criança vítima de violência, abuso sexual ou de maus tratos praticados pela própria família, em uma situação que é classificada de emergência. No Rio de Janeiro, numa pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro sobre ‘violência doméstica’, o tipo mais comum de violência é a sexual (31,6%), seguida de maus tratos físicos (27,7%), negligência (24%) e abuso psicológico (15,8%), onde na maioria das vezes, o algoz é o pai ou padrasto.

Em São Paulo, a CASA DE ISABEL, que é um Centro de Apoio a Mulheres Vítimas de Violência, afirma que 90% das mulheres que procuram ajuda são evangélicas, membros em sua maioria, de Igrejas Pentecostais. Nas dissidências da Casa de Isabel, é fácil encontrar grupos de mulheres com a Bíblia aberta, senhoras murmurando corinhos cristãos e até mesmo a música no rádio da recepção, tocando canções evangélicas.

Isto posto, é indispensável que entendamos:

1- Nem todos que se dizem evangélicos, de fato os são.
2- O homem por natureza é mau e desesperadamente corrupto.
3- É inegável que o ambiente onde o agressor foi criado e habita, contribui significativamente para a formação de uma mente violenta e perversa.
4- A falta de referências afetivas e familiares são marcas indeléveis a uma mente desestruturada.
5- A Ausência paterna caracterizada especificamente pela inexistência das leis que regem a família contribui para um comportamento violento do agressor.
6- A relativização da ética, da moral e dos bons costumes.
7- Baixíssimo nível de escolaridade.

E a igreja? O que tem feito diante da violência doméstica?

1- Tem sido absolutamente omissa diante da violência dominante na sociedade.
2- Tem sido teologicamente fatalista.
3- Tem "polyanizado" a vida fazendo o "jogo do contente", deixando de cumprir o papel de denunciar a violência e a injustiça da nação.
4- Tem sido exageradamente farisaica.
5- Tem “satanizado” os relacionamentos pessoais transferindo a culpa das mazelas humanas para o diabo.
6- Não tem educado, nem tampouco corrigido os desvios comportamentais de seus membros.
7- Tem distorcido teologicamente o papel do homem, da mulher e da criança na relação familiar.
8- Não tem fortalecido, nem tampouco servido como comunidade terapêutica àqueles que foram vitimados pela violência.

O que fazer então?

1-Romper definitivamente com a hipocrisia eclesiástica que nos é peculiar.
2-Romper com os conceitos e métodos educacionais usados nos encontros de casais.
3- Reformular as classes de ensino bíblico objetivando o resgate de valores cristãos como amor, respeito e afetividade.
4- Estabelecer um discipulado prático e objetivo em suas estruturas onde os valores do reino devam ser enfatizados e pregados.
5- Denunciar e punir eclesiasticamente os autores de violência doméstica.
6- Amparar, fortalecer e ajudar na restauração emocional dos que foram vitimas de violência familiar.
7- Estabelecer uma “Escola de Pais” onde através de pastores e educadores, pais e responsáveis sejam ministrados em quesitos básicos relacionados a convivência familiar.
8- Promover fóruns, simpósios e congressos práticos que visam à qualificação de conselheiros cristãos para uma abordagem direta dos que foram vitimados pela violência.
Estabelecer parcerias com o poder público, com a sociedade civil, com escolas, associações de moradores, conselhos tutelares, etc.
9- Se necessário for denunciar o agressor a polícia.

Caro amigo mais do que nunca é necessário arregaçar as mangas, abandonar definitivamente os balcões de espera, e enveredar por este mundão de meu Deus anunciando aos que sofrem o maravilhoso amor de Jesus.

Soli Deo Gloria,

Renato Vargens

Danilo Sergio Pallar Lemos disse...

Parabêns pelo seu blog.Pois apresenta um perfil teológico de expressividade e conscientização.
Acesse meu blog.
www.vivendoteologia.blogspot.com
Th.M- Danilo Lemos.

Augusto Elias disse...

É um assunto que abre um leque enorme de discussão.Não posso, em primeiro lugar,deixar de falar da impunidade quanto aos agressores.São criminosos que na maioria da vezes tiveram passagens pela polícia e que com um determinado tempo se "safam",já nos primários,que inclusive cometendo homicidio no mesmo crime,teremos um ìndice de "safismo" mais abrangente pra eles.Por isso que defendo uma revisão nos códigos penal,processo penal em paralelo com a nossa constituição nos textos relacionados á proteção infantil.Quando o senhor chama a atenção na forma de proceder,no caso as atitudes da igreja,entendo que nada mais é do que coragem,determinação e sabedoria.Certos representantes de algumas comunidades evangélicas quando estão debatendo ficam omissos,até mesmo por questões eleitoreiras, sendo tomado então por atitudes erradas, ao invés de combater esse mal que nos aflinge através da ética e da moral e principalmente embasados na palavra de Deus.Ficam com medo.Sei lá!Só Deus sabe se é para não perder o previlégio e vantagem de quem estar no poder ou algo parecido.Não se preocupam com a questão da educação dos membros,item "6". O item "7",tem haver com o estudo da palavra.Pastor,na verdade a igreja precisa ir em direção ao povo.Não podemos ficar de braços cruzados com todo tipo de violencia,inclusive a infantil batendo á nossa porta.Na paz do Mestre Jesus!

Antonio Cruz - Metanoia disse...

Essa é uma grande e lamentável verdade Pr. Renato. Escrevi sobre isso no METANOIA após fazer um trabalho para a faculdade e me aproximar mais da realidade, ouvi tantos relatos que me deixou triste e muito preocupado, apesar de não haver colocado esse dados, estou pensando em iniciar uma pesquisa sobre o assunto somente no meio evangélico para ter uma base mais sólida dessa realidade.
Violência Domestica, Violência de Gênero entre outros tipos de violência que não deveria ter espaço no meio cristão, está crescendo assustadoramente, ou, somente agora as vitimas estão se animando a entrar na pauta.

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