quinta-feira, novembro 21, 2013

Missão de Apoio a Igreja Sofredora (MAIS), começa a receber refugiados da Síria

 Gabriel Lordêllo
Geryes Alkhalaf, 33 anos, e a mulher, Abir Deghlawi, 30, grávida de sete meses: alívio em solo capixaba


Geryes Alkhalaf e Abir Deghlawi foram acolhidos pela Organização Não Governamental (ONG) Missão em Apoio à Igreja Sofredora (Mais), coordenada pelo pastor Mário Freitas, da Igreja Missão Praia da Costa, em Vila Velha.

Procura

O pastor explica que cerca de dez famílias, constituídas de pais e filhos, a exemplo do casal que chegou ontem à capital capixaba, já sondaram a Mais sobre a possibilidade de se estabelecer no Brasil.

Por causa da guerra, essas pessoas já estão fora da Síria, em países como Líbano, Jordânia,Turquia e Egito. O casal Gerys e Abir estava há um ano no Líbano.

O pastor Mário Freitas explica que, uma vez viabilizada a vinda dos sírios, eles serão acolhidos pela organização que ele coordena em Vila Velha.

Nessa cidade, serão assistidos por serviços médico, odontológico e psicológico, além de receberem apoio para a obtenção da documentação de refugiados provisórios, que lhes dará o direito de ter acesso a carteira de trabalho e Cadastro de Pessoa Física (CPF).

Mas os sírios não devem permanecer no Espírito Santo, já que a proposta da Mais é inseri-los em comunidades cristãs instaladas em outros Estados do país.

Acolhida

Segundo o pastor Freitas, famílias ligadas a essas igrejas deverão acolher as famílias sírias, às quais deverão assegurar pagamento de aluguel e emprego, entre outros benefícios que lhes garantam condições de vida no Brasil.

O pastor explica que há maior probabilidade de as famílias sírias virem a ser acolhidas por comunidades cristãs árabes no Brasil, com igrejas em cidades como São Paulo e Foz de Iguaçu, no Paraná. “Vamos hospedá-los, inicialmente, oferecendo ajuda que constitui uma atitude cristã”, diz o pastor.

No Brasil, segundo o Ministério da Justiça, há 286 refugiados sírios. Mas não há nenhum, oficialmente, no Espírito Santo.

“Damasco virou um lugar perigoso”

O comerciante Geryes Alkhalaf, 33 anos, casou-se com a engenheira agrônoma Abir Deghalawi, 30, há um ano e meio, e ela está grávida, no sétimo mês de gestação. Seria uma história comum, de um casal feliz à espera do primogênito, não fosse a realidade que os envolve. Ambos chegaram ontem a Vitória, em busca de refúgio, bem longe da Síria, seu país de origem.

Moradores de Damasco, onde Geryes Alkhalaf era proprietário de duas lojas, eles tiveram que deixar a cidade há um ano. A explicação para essa decisão está intimamente relacionada à situação política vivida pela Síria, onde a resistência ao governo de Bashar al-Assad já resultou em mais de 100 mil pessoas mortas, numa guerra civil que se arrasta desde março de 2011.

Bombas

“Damasco tornou-se um lugar perigoso, por causa das bombas. Todo dia, ao sair para o trabalho, as pessoas despedem-se da família. Simplesmente não sabem se voltarão para casa”, disse, em inglês, Geryes Alkhalaf, que prefere não emite opinião sobre o governo.

Sua mulher, Abir Deghalawi, praticamente não falou ao chegar ao Aeroporto de Vitória, ontem à noite, em companhia do pastor Mario Freitas.

O pastor explica que cristãos que teriam se recusado a lutar contra o regime do presidente Bashar al-Assad sofrem represália. “De maneira geral, são vistos como aliados dos Estados Unidos, por isso mesmo, perseguidos. Nem no Líbano os sírios estão se sentindo seguros.”

Expectativas? Após quase 40 horas de viagem, Geryes Alkhalaf diz que quer ver o filho nascer e, com ele e a mulher, sobreviver em paz.

Maioria dos sírios no Brasil é cristã


Sana/AP
Conflito na Síria teve origem após a Primavera Árabe, em março de 2011
Os sírios que vêm sendo acolhidos em vários países – inclusive os que planejam vir para o Espírito Santo – são, em sua maioria, minorias cristãs de um país em que a maior parte da população é formada por muçulmanos sunitas, adeptos do islamismo que seguem a corrente majoritária da religião em todo mundo.

Segundo a coordenadora do Núcleo de Apoio a Refugiados no Espírito Santos, Viviane Mozine – que é também professora de Direito Internacional da Universidade de Vila Velha (UVV) –, uma vez acolhido, o refugiado não pode retornar a seu país enquanto perdurar a causa do seu pedido de refúgio.

Ela explica que refugiados são protegidos por uma convenção internacional e que as motivações têm relação com raça, religião, nacionalidade e opinião política. O refúgio é, portanto, uma proteção internacional para resolver problemas de ordem humanitária.

Na Síria, Viviane Mozine lembra que o problema teve origem na Primavera Árabe, que precedeu a guerra civil em 2011, e já causou mais de 100 mil mortes. “Ali há uma ditadura onde os que são contrários ao regime são perseguidos”, comenta.

No Brasil, segundo ela, há mais de 3 milhões de pessoas com ascendência Síria, havendo, portanto, uma grande e receptiva comunidade às pessoas originárias daquele país.

Uma vez reconhecida, oficialmente, no Brasil, como refugiada, a pessoa passa a ter os mesmos direitos dos brasileiros, tendo acesso a documentos que lhes permitem trabalhar, por exemplo. O único direito não assegurado ao refugiado é o político, de votar e ser votado. Desde 2004, o Núcleo de Apoio a Refugiados do Estado registrou 35 atendimentos de pessoas vindas da Palestina, do Iraque, de Cuba, de Angola, Paquistão e Guiné-Bissau.

ONG já atuou no Haiti e nas Filipinas

A organização não governamental Missão em Apoio à Igreja Sofredora (Mais) tem sede no Centro de Vila Velha e atua, de forma interdenominacional, em parceria com igrejas de todo o Brasil.

O pastor Mario Freitas, que coordena a Mais e é ligado à Igreja Missão Praia da Costa, explica que a ONG trabalha desenvolvendo projetos pós-catástrofes, pós-guerras e conflitos, além de áreas onde há registro de perseguição religiosa.

A Mais tem registros de atuação no Haiti, no Sudão, no Burundi (África), na Ásia Central, no Japão (em decorrência do tsunami, em 2011), e, mais recentemente, nas Filipinas, onde um tufão provocou a morte de mais de 4 mil pessoas.

Segundo o pastor Mario Freitas, a Mais dá apoio às famílias por meio das igrejas cristãs. Na Síria, a motivação para a ajuda vem de uma forte perseguição exercida contra os cristãos, que segundo o pastor são vistos como pessoas associadas aos americanos.

A Mais está preparada para receber, em sua sede, em Vila Velha, além do casal Geryes Alkhalaf e Abir Deghlawi, mais famílias. Esses dois admitem que seus familiares podem também deixar a Síria. Um irmão de Geryes quer ir para o Canadá.

A Síria em 7 tópicos

Tamanho
A Síria é um país no Oriente Médio. Com cerca de 185 mil km2 de área, tem 3/4 do tamanho do Estado de São Paulo e 22 milhões de habitantes

Religião
A maioria dos sírios é da etnia árabe e segue o ramo sunita do Islã. O país também tem em suas minorias muçulmanos xiitas e alauítas, além de cristãos

História
Integrou o Império Otomano de 1516 a 1918. Depois do final da I Guerra Mundial, foi dividida em duas partes: uma sob comando da França, que compreendia Síria e o
atual Líbano, e outra, sob comando britânico, composta por Palestina, Transjordânia (atualmente Israel e Jordânia) e Iraque

Independência
Depois de numerosos golpes militares e um conflito com Israel em 1948, em 1964 proclamou-se a República Popular da Síria, sob o comando do Partido Baath, socialista e nacionalista. De 1971 até 2000, o país foi liderado pelo alauíta Hafez al-Assad. Depois de sua morte, a presidência foi transmitida a seu filho e atual ditador, Bashar

Primavera Árabe
A Primavera Árabe de 2011 no Egito e na Tunísia inspirou os sírios a tomarem as ruas, em março de 2011, em protestos contra o regime de Bashar al-Assad. Os protestos não foram bem aceitos pelo governo, que respondeu com medidas extremas. Nisso, forças rebeldes formadas por civis surgiram e começaram a se armar para combater a violência do governo, o que levou a embates que destruíram cidades inteiras

Guerra civil
A tensão crescente entre os dois grupos criou o atual estado de guerra civil e, até o final de agosto, em cerca de dois anos e meio de conflito, 110 mil pessoas morreram, 2 milhões buscaram refúgio fora da Síria e 4 milhões estão deslocadas

Armas químicas
Em 21 de agosto deste ano, um suposto ataque químico com agentes neurotóxicos deixou cerca de 1,3 mil mortos, segundo rebeldes sírios, chocando a comunidade internacional. A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) e a ONU têm 60 especialistas no país após o Conselho de Segurança das Nações Unidas determinar em setembro passado uma resolução que ordena a destruição do estoque de armas químicas da Síria.

Fonte: A Gazeta

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