terça-feira, junho 29, 2010

A teologia do castigo



 Por Renato Vargens

1º de Janeiro de 2010, uma tempestade sem precedentes caiu sobre a cidade de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, matando mais de 50 pessoas e desabrigando centenas de famílias.  12 de janeiro de 2010, um forte terremoto devastou o Haiti matando milhares de pessoas. O epicentro que aconteceu a poucos quilômetros da cidade de Porto Príncipe destruiu completamente a capital haitiana deixando um número incontável de pessoas desabrigadas.  07 de abril de 2010, a região metropolitana do Rio de Janeiro sucumbiu em conseqüência de um dos maiores temporais de sua história. Em Niterói, dezenas de pessoas que moravam no Morro do Bumba, morreram soterradas com o deslizamento de um antigo lixão. Junho de 2010, fortes chuvas destroem cidades inteiras nos estados de Alagoas e Pernambuco, levando milhares de pessoas ao mais profundo caos. Janeiro de 2011, fortes chuvas destroem parte das cidades de Teresópolis e Nova Friburgo, região serrana do Rio de Janeiro, vitimando centenas de pessoas.

Lamentavelmente diante da dor e das tragédias que nos sacudiram a alma  nestes últimos tempos o que mais temos visto por parte de alguns evangélicos são explicações duras, despóticas e vingativas que apontam exclusivamente para a existência de um Deus que se regozija no castigo.

Infelizmente, tais individuos  afirmaram que as tragédias ocorridas nestes últimos 12 meses  se deram  exclusivamente em virtude da ira divina. Para os defensores da teologia do castigo, Deus julgou os homens em virtude dos seus inúmeros pecados. Segundo os advogados desta linha de pensamento, o Senhor amaldiçoou os moradores destes lugares devido as suas iniqüidades.

 Em Lucas 13.1-9 o Senhor Jesus trata de forma clara e objetiva de dois tipos de tragédias. A primeira que ele menciona é aquela que é gerada por homens (1-3). Certos galileus haviam sido mortos por soldados de Pilatos. A Bíblia nos dá a entender que “alguns” colocaram-se como críticos e juízes; deduzindo que aqueles que haviam sofrido violência humana, seriam mais pecadores do que os demais. O ensino ministrado por Jesus é o seguinte: Não vamos nos colocar no lugar de Deus. Não vamos nos concentrar em um possível juízo ou julgamento sobre as vítimas. O Senhor em essência diz: cuidem de si mesmos! Constatem os seus pecados! Arrependam-se! Entretanto, Ele também nos traz o relato de um segundo tipo de tragédias. São tragédias geradas por  aparentes “fatalidades”. Ele fala da Torre de Siloé. O texto (4-5) diz que ela desabou, deixando 18 mortos. Jesus sabia que mesmo quando, aos nossos olhos, mortes ocorrem como conseqüência de acidentes, isso não impede que rapidamente exerçamos julgamento; não impede que tentemos nos colocar no lugar de Deus. E Jesus pergunta: “Acham que eram mais culpados do que todos os demais habitantes da cidade”? O ensino é idêntico: Não se coloquem no lugar de Deus; não se concentrem em um possível juízo ou julgamento sobre as vítimas; cuidem de si mesmos! Constatem a sua culpa! Arrependam-se!

Diante do exposto, considero extremamente equivocado, arbitrário e difamatório afirmar que Deus resolveu castigar os moradores destas cidades em virtude de seus pecados.  Junta-se a isso o fato de que em nenhum momento as Escrituras Sagradas nos mostram a existência de um "deus infantilizado" que se deixa levar passionalmente pelos rompantes humanos. Deus é Deus, e seus planos já foram estabelecidos antes da fundação do mundo. As Escrituras nos mostram que Ele está no controle de todas as coisas. Nosso Deus reina soberanamente sobre a História. Nosso Senhor tem em suas mãos o poder da vida e da morte, e faz tudo acontecer debaixo dos seus propósitos eternos, e nada pode surpreendê-lo. 

Caro leitor, as tragédias da vida não fogem a onisciência do Criador. Os desastres naturais, não podem em hipótese alguma surpreender ao Todo-Poderoso. Como rei e sustentador do cosmos, ele rege os acontecimentos, fazendo dos dramas da existência um profícuo instrumento de amplificação, cujo propósito é falar ao coração dos homens sobre a brevidade da vida e a sandice de viver sem Cristo.

Estas são as verdades contidas na Bíblia. Elas respondem à nossa necessidade existencial de crer que por trás do tragicamente inexplicável existe alguém no controle, ainda que olhando a tragédia a partir de dentro, ela pareça nos revelar exatamente o contrário!

Tenho plena convicção de que o meu Redentor governa soberanamente. Do Gênesis ao Apocalipse, Ele se revela como o Sustentador do Universo. Acreditar nesta verdade me proporciona a certeza de que absolutamente nada foge ao seu conhecimento.
                                                                                 
Renato Vargens
Teóphilo Noturno disse...

Engraçado,

Eu falei exatamente isso em janeiro...

http://blog.teophilo.info/2010/01/angra-haiti-natal-e-balanco-geral-deus.html

Anônimo disse...

Engraçado, até parece que o Theófilo descobriu a pólvora em janeiro...

Robson Lelles disse...

E cá estamos nós, de novo, novamente, outra vez, assistindo ao espetáculo da imperícia humana ao lidar com as leis da Física dos Fluidos e achar que DEUS vai desmentir a Si mesmo porque aquele filho rebelde resolveu "determinar" que a casa construída numa pirambeira da Mata Atlantica não vai descer montanha abaixo quando as chuvas de janeiro chegarem.

A nós, que também não estamos livres de pecar, cabe a iniciativa de ações de misericórdia e solidariedade neste momento, e a dúvida, quase certeza, que quando o sol voltar, novas casas serão erguidas naquelas mesmas encostas onde ontem desceram montanha abaixo outras casas, outras vidas.

Anônimo disse...

Bem, não sou adepto disso que chamam de teologia do caos. Creio como bem afirmou, que Deus não está alheio às tragédias da vida. Creio que colhemos o fruto que plantamos. se construirmos nossa casa sobre a areia, de preferencia em barro mole numa encosta de morro, com certeza ela não vai resistir às chuvas fortes, qualquer engenheiro sabe disso. Mas também não descarto a possibilidade de Deus agir diretamente em certas situações. Ele fez assim no passado, e pode fazer quando quiser. Isso não o torna um deus-vingador-infantilizado. algumas vezes a iniquidade do homem chega a níveis "insuportáveis", como antes do dilúvio. e a humanidade está caminhando para um situação parecida. claro, estamos no 'tempo da graça'. mas Deus não está submetido às nossas regras teológicas, nem para um lado, nem para outro. Aqueles eventos que não têm explicação lógica alguma, chamados de fatalidades, podem sim, ter causa ou origem numa intervenção superior. o que tambén não significa que sempre será, e nem podemos saber quando o é ou quando não é. esse discernimento cabia aos profetas antigos. o que cabe a igreja, nós, é fazermos a boa ação; a verdadeira religião.

no amor de Cristo,

Daniel

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