quinta-feira, agosto 26, 2010

A relação entre a teologia da prosperidade, o catolicismo medieval português, os evangélicos brasileiros e o trabalho.


Por Renato Vargens
 

O catolicismo vivenciado por Portugal foi o pior tipo de catolicismo existente. Os portugueses do século XIX eram extremamente religiosos, místicos, e absolutamente avessos ao desenvolvimento da ciência. Um exemplo claro disso se deu quando Dom José, herdeiro do trono português contraiu varíola. Sua mãe, D. Maria I, por motivos religiosos proibiu com que o rapaz recebesse a vacina que poderia livrá-lo da morte. A crença popular era de que não cabia a ciência interferir no processo de vida e morte de quem quer que seja. Para piorar a situação, Portugal foi o ultimo país europeu a abolir a inquisição. Além disto, numa época de grandes descobertas, os patrícios não produziram um cientista ou intelectual sequer. Sem sombra de dúvidas, dentre as nações européias, Portugal foi o mais decadente e o mais avesso à modernização dos costumes e das idéias.

A riqueza portuguesa não era resultado do trabalho e sim do dinheiro fácil extirpado das colônias. Além disso, numa época em que a revolução industrial começava a redefinir as relações e o futuro das nações, os portugueses ainda estavam presos ao sistema extrativista o qual tinha construído sua efêmera prosperidade. Junta-se a isso, que o conceito reinante de prosperidade estava relacionado a ausência do trabalho, até porque, para os portugueses radicados no Brasil, trabalhar era função exclusiva dos escravos, cujo comportamento deveria ser absolutamente diferente dos fidalgos. Entrelinhas, a idéia que se dava é que a prosperidade não era conseqüência direta do trabalho do individuo e sim da exploração do sacrifício alheio, o que indiretamente ocasionava à população a idéia de que sem ter bons padrinhos ou ter nascido em berço de ouro, dificilmente se experimentaria prosperidade financeira. Além disso a crença mística de que os santos católicos intervinham nos dramas humanos corroborava com a concepção de que os cidadãos brasileiros deveriam esperar dos céus as suas riquezas.

Ouso afirmar que a Teologia da Prosperidade encontrou na cultura brasileira o campo ideal para o desenvolvimento de suas doutrinas, até porque, para os adeptos de tal filosofia a prosperidade não se dá exclusivamente pelo trabalho, mas sim pela intervenção milagrosa de Deus mediante decretos e determinismos humanos.
 
Tenho a impressão que o inconsciente coletivo nacional está pautado na idéia de que se é possível ser rico sem trabalhar. Talvez seja esta uma das razões para termos tantas loterias e raspadinhas espalhadas por este país. Sem sombra de dúvidas afirmo que os cidadãos tupiniquins almejam por prosperar, no entanto, para estes, esta prosperidade não pode em hipótese alguma relacionar-se com o trabalho, até porque, é muito mais fácil e rápido usar de subterfúgios mágicos com vistas ao enriquecimento, do que passar anos a fio dedicando-se ao batente.

Calvino acreditava que o homem possuía a responsabilidade de cumprir a sua vocação através do trabalho. Na visão de Calvino, não existe lugar para ociosidade em nossas agendas. E ao afirmar isto, o reformador francês, não estava a nos dizer de que homem deva ser um ativista, ou até mesmo um tipo de worhaholic. Na verdade, Calvino acreditava que a prosperidade era possível desde que fosse consequência direta do trabalho.

Acredito profundamente que se quisermos construir um país decente e sério, necessitamos romper com alguns paradigmas que nos cercam. Nações bem sucedidas são aquelas que se empenham na construção de valores e conceitos como honestidade, equidade, ética e retidão.
 
Infelizmente no país do jeitinho, o trabalho nem sempre é visto com bons olhos, até porque na perspectiva tupiniquim, trabalho foi feito para gente miserável e desqualificada que precisa sobreviver. 
 
O tempo de mudarmos nossos conceitos e valores é esse, semeando no coração brasileiro a idéia de que o trabalho é reflexo de uma grande bênção divina, a qual deve ser valorizado e dignificado.

Soli Deo Gloria,

Renato Vargens
Uma Questão de Perspectiva disse...

Excelente texto. Eu acrescentaria apenas que no Brasil, sempre que alguém se torna bem sucedido e enriquece, as pessoas desconfiam: ou é ladrão, ou é desonesto, ou é um "filhinho de papai". Poucas vezes se considera a possibilidade de que o trabalho duro, o exercício intelectual e o apego a valores de cima tenham conduzido alguém a ser bem sucedido. Uma pena que como nação acabamos premiando o preguiçoso e desprezamos os que constroem coisas úteis e de valor. Definitivamente, ou o povo muda ou a Teologia da Prosperidade ainda vai continuar danificando em muito este país.

Bruno Saavedra

Eber Helom disse...

A grande questão que me intriga sobre este assunto é: como combater e minimizar a propagação desta teologia, que já está espalhada pelo país, com uma sociedade tão individualista e que busca seus próprios interesses em tudo?
Atacar ferozmente ou comer pelas beiradas?


Abs

Amarildo Rocha disse...

Sabias palavras, Paulo em sua grande sabedoria e inspiração já dizia "se alguém não quiser trabalhar, não coma também". Creio que nós, seguidores de Cristo precisamos dar o exemplo, tanto para a edificação da sociedade como um todo, como para a expansão do Reino de Deus na terra. Infelizmente não é isso que vemos, muitos afirmam por ai que é só orar, e ter fé, que Deus da mansão carro importado e tudo mais. Principalmente se você plantar uma grande semente em seus ministérios.
Em Cristo:
Amarildo.

PASTOR ACCONCI disse...

FICO PREOCUPADO COM UM FATO QUE TENHO OBSERVADO NAS IGREJAS. HÁ UM NOTÓRIA DISCRIMINAÇÃO COM RELAÇÃO AOS COLEGAS MINSITROS QUE SÃO PESSOAS NÃO ABASTADAS, EXPLICO: NAS IGREJAS DOMINADAS POR ESTE CANCER CHAMDO "TEOLOGIA" DA PROSPERIDADE AQUELES QUE NÃO SÃO PRÓSPEROS SÃO IDENTIFICADOS COMO ESTANDO EM PECADO.
NESTA DISTORÇÃO DE PENSAMENTO CRIA-SE UM DELÍRIO QEU NASCE DA ID´´EIA DE QUE DESU É OBRIGADO A ABENÇOAR FINANCEIRAMENTEA PESSOA E SE NÃO FIZER, DAS DUAS UMA, OU SE ESTÁ EM PECADO( A MAIORIA DOS OLHARES DE JULGAMENTO E REPROVAÇÃO CAEM AQUI) OU O INDIVÍDUO NÃO "BUSCA" ( ENTENDA-SE POR BUSCAR; OFERTA O SEU TUDO, ADQUIRE AS CAMPANHAS, DÁ O SEU "ISAAC", DÁ O SEU VOTO).
OCORRER COMO TENHO PRESENCIADO UAM MULTIDÃO DE DEPRESIVOS ESPIRITUAIS, PESOAS TOTALEMNTE DESPROVIDAS DA FÉ GENUÍNA QUE REALMENTE BARGANHAM COM SE FIZESSEM UM "DESPACHO' EVANGÉLICO, ONDE DAR(FINANCEIRO) É SINÔNIMO DE RECEBER, E QUANDO ISO NÃO OCORRE OS LÍDERES CULPAM O FIEL QUE NAÕ DEU O SEU TUDO, E O FIEL CULPA A DEUS POIS NÃO CUMPRIU A PROMESSA DE ABASTANÇA.
O EVANGELHO DA PROSPERIDADE RESUM-SE A DAR E RECEBER, ONDE A SALVAÇÃO FICOU A SEGUNDO PLANO, NESTA MÁQUINA EMPRESARIAL DENOMINADA IGREJA.
PR CLAUDIO ACCONCI prclaudio-acconci@bol.com.br

OH ! GLÓRIA. disse...

Pastores com a sindrome do Silvio Santos ? vocês querem dinheiro ? como Paulo de Tarso se comportaria nos dias de hoje ? tenho certeza que ele arremessava o chicote nestas pregações, puxa ele não se fez pesado aos seus irmãos, ele trabalhou, acho que até teve uma micro empresa porque teve como sócios Áquila e Príscila, criava cabritos para do couro fazer tendas e sobreviver, o REI dos REIS nem timha pousada certa, quando estava por nascer seus pais terrenos tiveram que se alojar num estábulo emprestado, meus irmãos, este povo que prega o enriquecimento material não quer a volta de JESUS para já, meu tesouro está no céu, obrigado JESUS CRISTO.
Gilbert Raposo, um aprendiz em Cristo Jesus.

Daniel Braun disse...

Amigos, não é impressão no consciente popular, a questão é que no Brasil rico (nossa elite burguesa) não trabalha mesmo, e usa todo esse poderio economico atravez dos meios de comunicação para reproduzir este sistema de dominação. Agora quanto a Historia vale a pena lembrar que os paises como Inglaterra, Holanda e Alemanha tambem se beneficiram de todo o processo histórico de dominação e exterminação de nações inteiras atravez de Espanha e Portugal. De onde vieram os recursos que alavencaram a gênese industrial?

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